Ao final do século XIX, o progresso e a transformação
do espaço urbano se mostraram incapazes de promover reais mudanças na
sociedade, beneficiando apenas uma pequena parte da população. Sendo assim,
instaurou-se um clima de descrença e pessimismo que abriu espaço para a arte se
voltar para ela mesma, apartando-se da realidade objetiva e centrando-se na
realidade subjetiva. Na literatura, os poetas simbolistas utilizaram uma linguagem
extremamente abstrata, que mais sugeria do que dizia.
Para mostrar a descrença na razão, motivada por um
profundo descontentamento com os supostos avanços que inundaram a sociedade ao
final do século XIX, procure assisitr ao vídeo “Mito da Caverna”, uma versão em história em quadrinhos para o
célebre mito criado pelo filósofo Platão.
Segundo o mito original, em uma
caverna, vivem prisioneiros cuja única forma de contato com o mundo exterior é
através das sombras projetadas nas paredes pela luz de uma fogueira. Quando
finalmente libertos, os ex-prisioneiros maravilham-se com o real, com a
verdade, com um mundo tangível e palpável ao qual não tinham acesso. No
entanto, tendo vivido desde o nascimento na escuridão, esses seres têm
dificuldade para se habituar à luz, ao mundo real.
Assista também o vídeo Ser ou não ser - Platão, o mito da caverna, da série apresentada pela filósofa e psicanalista Viviane Mosé, exibido pelo Fantástico.
É
importante destacar que a caverna e a consequente privação de
luz simbolizam a ausência de conhecimento. Para Platão, tal como os
prisioneiros em sua alegoria, os seres humanos não teriam condições de acessar
a verdade. Todos seriam iludidos por seus sentidos. Como ocorreria na caverna,
visão, tato, audição, olfato e paladar permitiriam ao homem apenas o contato
com sombras, meras projeções da essência de todas as coisas. O sol, ao
contrário, visto somente depois da saída da caverna, representa o saber, o
conhecimento da essência. Esse saber, que ilumina alguns, não chega a outros,
que permanecem no interior, felizes e descrentes da verdade exterior à caverna.
Na poesia, os simbolistas também questionam as sombras
e as projeções representadas pelo progresso do final do século XIX. Nesse
contexto, a saída encontrada pela arte foi lidar com essa realidade de outra
forma, com um olhar pessimista e reflexivo.
O pessimismo, motivado pelo descrédito da
racionalidade humana, foi representado pela recorrência de elementos que
remetiam ao vago, ao impreciso. Nesse sentido, a poética simbolista conseguia
se contrapor à postura racional, marcada pela clareza, objetividade e exatidão.
Mas como representar o vago? A resposta dos poetas simbolistas está na criação
de imagens sugestivas, como aquelas proporcionadas pelas mesclas inovadoras de
sentidos, as sinestesias. É por isso que, a despeito de se preocupar com a
essência, o Simbolismo explorou tanto os sentidos humanos, considerados
enganadores por Platão.
Assim, o Simbolismo, evidenciando pontos de contato
com o mito, representou a reflexão crítica sobre a razão e a realidade na
literatura.
Mito da Caverna - HQ Maurício de Souza
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